Toda obra é uma pergunta que exige resposta
11/07/2023
Sob uma aparente facilidade, resultante da utilização de raros dons e do conhecimento experimentado de um sólido "metier", a primeira qualidade de Jerci Maccari é sua profunda devoção à natureza e sua humildade frente à perfeita beleza da luz."Toda obra é uma pergunta que exige uma resposta" - dizia Balzac. Uma arte feliz como a desse artista é mais difícil comentar que uma arte voluntariamente dramática.
A estrutura de sua composição é perfeitamente equilibrada. As paisagens se caracterizam por um colorido claro e delicado, com uma profundidade espacial e uma luminosidade surpreendente. Seu ambiente de predileção corresponde às suas origens de homem do campo; desde o semear à colheita, passando pelo arado e pela poda; sem esquecer da insinuante imagem daquele que planta, daquele que corta a lenha, para aquecer o seu lar.
Segundo Lucrécia D"Alessio Ferrara: "A pintura de Jerci Maccari reúne lembranças do cotidiano construído pelo trabalho com a terra marcada pelo tempo de preparar o solo, de semear ou plantar, pelo tempo de esperar, almejar e sonhar, o tempo de colher o café, a uva, a fruta, o cereal.
Nesse espaço marcado pelo tempo do trabalho " prossegue a historiadora - surgem e se desenvolvem os personagens familiares, figuras ancestrais que povoaram a imaginação da criança e permitiram se acendesse o imaginário do artista. O cerne da pintura se faz com técnica e materiais pesquisados com argúcia, mas, sobretudo, com atenção e ousadia para transformar o cotidiano em matéria poética".
Se Maccari tem na alma a paisagem e os frutos da terra, como na pintura "Colheita no Cafezal", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, não há dúvida que, em torno desse tema, o artista desenvolve com grande efeito a sua obra: uma visão que sugere " inspirada nas lembranças de criança e a tenacidade de pintor " um diálogo com a realidade e o despertar de um Brasil pujante graças à sua agricultura.
O artista
Jerci Maccari nasceu em 1949, em Urussanga, Santa Catarina. Passou parte de sua infância em Francisco Beltrão, Paraná trabalhando no campo com sua família.
Aos 13 anos ingressou no Seminário de Ibicaré (SC), transferindo-se posteriormente para o Seminário de Pirassununga (SP) e para uma casa religiosa em Valinhos (SP).
Com o declínio de seu ideal religioso e, sob a orientação de Sebastião Guimarães, ingressa na carreira de artista plástico, interessando-se pela Arte Moderna, seja em contato com vários artistas quanto com o estudo de literatura especializada.
A partir de 1972, interrompe as relações com o mundo artístico para formar-se em Comunicação Social. Após seis anos, retorna à pintura demonstrando grande influência do Cubismo em temas dados pelo elemento figurativo e pela estilização da paisagem.
Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas e possui obras em diversas coleções particulares e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo. Leia mais